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Veja como planejar sua aposentadoria após os 30 anos
Nem todo mundo, por uma série de motivos, consegue poupar cedo para a aposentadoria. Muitos começam o pé-de-meia só após os 30 anos. Demanda mais esforço, mas ainda pode garantir uma aposentadoria tranquila.
Quanto poupar? E quanto acumular até lá?
Especialistas ouvidos pelo Valor Investe mostram o "caminho das pedras".
Na avaliação de Leonardo Ces, sócio-fundador da Ibbra Consultoria Financeira & Patrimonial, não é necessário mais de 25 anos de construção patrimonial caso a 'poupança' seja feita de maneira bem planejada. "A principal avaliação nessa fase é buscar uma rentabilidade razoável com um baixo risco", explica.
“O que acontece muitas vezes é que com 40 para 50 anos de idade, as pessoas estão no auge da sua carreira produtiva e consequentemente no auge dos seus ganhos. Então, se a pessoa tiver a cabeça no lugar e um pouco de disciplina, consegue acelerar a formação patrimonial investindo uma quantia maior por mês e não precisar esperar até os 75 anos por exemplo para se aposentar", comenta Ces.
Nessa faixa etária, o ideal é começar com um bom diagnóstico financeiro: entender quanto se gasta, quanto é possível poupar (a partir de um bom orçamento doméstico) e qual padrão de vida se deseja manter no futuro. A partir disso, é possível definir uma meta de renda futura e construir um plano de investimento de longo prazo, aproveitando o tempo a favor por meio dos juros compostos, explica Henrique Souza, planejador financeiro pela Planejar.
Souza comenta que, após os 30, é verdade que o tempo disponível até a aposentadoria é menor — e o tempo é talvez a variável mais importante no tripé do planejamento financeiro (tempo, valor aportado mensalmente e rentabilidade). Por outro lado, quem começa aos 30 tende a ter mais maturidade, estabilidade (capacidade de poupança) e clareza sobre onde quer chegar, o que aumenta as chances de sucesso. "A disciplina e a constância são tão importantes quanto o tempo e fazem toda a diferença nesse caminho", ressalta ele.
"Costumo dizer que o seu 'eu' de 30 precisa cuidar do seu 'eu' de 80, 90 ou até 100 anos. Porque, sim, com os avanços da medicina, é bem provável que muitos de nós vivamos muito mais. Quando esse futuro chegar, você vai ser vai agradecer profundamente ter começado agora", enfatiza o planejador financeiro.
Na visão do especialista, o pé-de-meia extra é essencial, tendo em vista que o INSS oferece uma proteção básica, mas "está longe de garantir o mesmo padrão de vida da fase ativa". Além disso, há incertezas quanto à sustentabilidade do sistema no longo prazo, diz Souza.
Atualmente, o teto do INSS gira em torno de R$ 8 mil — ou seja, mesmo que você tenha contribuído com o valor máximo, não se aposentará com mais do que isso. Souza comenta, porém, que muitos estudiosos acreditam que esse teto deve cair gradativamente, com isso, é preciso se preparar para todos os cenários.
Buscando a independência financeira
A independência financeira acontece quando a carteira de investimentos do investidor gera uma renda passiva suficiente para manter seu padrão de vida, sem que seja necessário mais trabalhar por dinheiro.
Exemplo: se os gastos mensais são de R$ 10 mil, o investidor estará independente financeiramente quando a carteira gerar R$ 10 mil por mês de renda passiva. E se, no futuro, ainda puder contar com o INSS, o montante será um complemento bem-vindo. No entanto, Souza aconselha não depender exclusivamente da seguridade social.
Para chegar nesse patamar, Souza enfatiza que é preciso considerar quatro variáveis fundamentais no planejamento financeiro ou previdenciário:
- Quanto deseja receber por mês no futuro;
- Em quanto tempo pretende se aposentar;
- Quanto consegue poupar hoje;
- Qual será a rentabilidade média dos seus investimentos.
"Quanto mais tempo e maior a capacidade de poupança, menor será o esforço mensal necessário. E quanto maior a rentabilidade dos investimentos, maior será o efeito positivo dos juros compostos ao longo do tempo", diz o planejador.
No entanto, Souza detalha que é fundamental lembrar da principal máxima do mercado financeiro: “quanto maior o retorno, maior o risco”. Por isso, é essencial alinhar as expectativas do investidor, seu perfil de risco e seu horizonte de tempo para construir um plano sólido, seguro e realista.
Um dos caminhos apostados para o pé-de-meia é a previdência privada. Segundo Souza, pode valer a pena fazer esse tipo de escolha, especialmente para quem já tem uma renda mais consistente e busca uma alternativa de longo prazo. Mas, como qualquer investimento, é preciso entender o produto antes de contratá-lo.
Ao avaliar uma previdência privada, é preciso observar o tipo de plano (PGBL ou VGBL), o regime de tributação (progressiva ou regressiva), as taxas envolvidas (como administração) e a solidez da instituição financeira.
"Vale lembrar que a previdência privada é apenas um dos caminhos para a aposentadoria. O investidor pode montar sua própria carteira de investimentos com o mesmo objetivo, desde que respeite seu perfil de risco e tenha um bom planejamento", enfatiza o planejador.
Por outro lado, Ces ressalta que a previdência privada é uma categoria de produtos de investimentos, portanto possuem bons produtos como outros não tão bons assim. "Então, qualquer hora é hora de se investir em previdência privada, desde que sejam feitas as escolhas corretas dos produtos nessa categoria para cada idade e cada objetivo".
No caso do PGBL, por exemplo, existe um incentivo fiscal que permite deduzir até 12% da renda tributável anual, e, após 10 anos, possibilita uma alíquota de IR de apenas 10%, bem abaixo da máxima de 27,5%. Mas quem não se enquadra nesse modelo pode tranquilamente investir fora da previdência privada e ainda assim garantir sua independência financeira com disciplina e estratégia.
Por onde começar? E o que fazer?
A poupança para o futuro vai impactar em renúncias de gastos no momento: aquele dinheirinho que, de repente, era um gasto não essencial, vai para o cofrinho. Mas, segundo Souza, a melhor forma de lidar com a dificuldade de abrir mão do presente em nome do futuro é ter clareza de propósito. "Você precisa entender por que está fazendo aquele esforço, por que está sendo disciplinado", comenta o planejador financeiro.
Por isso, para quem decide começar o planejamento previdenciário a partir dos 30 anos (ou mesmo depois disso), os especialistas elencam algumas dicas:
- Comece o quanto antes: o tempo é um grande aliado dos juros compostos. Quanto mais cedo, menor o esforço necessário;
- Diversifique os investimentos: não concentre tudo em um único produto ou classe de ativo. A diversificação reduz riscos e melhora o desempenho ao longo do tempo;
- Evite produtos que não entende: só invista no que você conhece. Produtos mal compreendidos costumam gerar frustração ou perdas;
- Reavalie o plano anualmente: sua vida muda, seus objetivos mudam, sua renda muda — e seu plano precisa acompanhar essas mudanças;
- Tenha cuidado com promessas de enriquecimento rápido, "atalhos" milagrosos e apostas disfarçadas de investimento. Evite seguir dicas de influenciadores que não têm certificações nem preparo técnico para orientar sobre finanças.
- Não tente compensar o 'tempo perdido', caso tenha começado a poupar mais tarde, com investimentos arriscados demais, pois isso pode gerar perdas e frustração;
- Caso precise de orientação, busque ajuda de um planejador financeiro certificado.
Além disso, nada de criar metas irreais. Elas também podem gerar frustração, sensação de fracasso e, muitas vezes, levam ao abandono completo do plano. "O planejamento precisa ser sustentável e adaptado à realidade de cada pessoa", diz Souza.
Ces recomenda que o poupador, para saber quanto será necessário acumular de patrimônio para ter uma renda passiva "perpétua" para esta fase, multiplique o gasto anual por 22.
Os especialistas também pontuam que, para uma carteira previdenciária, a alocação deve sempre buscar um equilíbrio entre segurança e rentabilidade, respeitando o perfil de risco e o horizonte de tempo do investidor. Alguns exemplos de ativos comumente utilizados nesse tipo de planejamento são:
- Tesouro Renda+, ideal para quem quer garantir uma renda futura mensal a partir de uma data específica. "Mesmo aos 40 ou 50 anos, ainda pode ser uma boa opção — o importante é ajustar o vencimento à sua expectativa de aposentadoria", diz Souza;
- Fundos de previdência privada, desde que bem geridos, com baixas taxas e estrutura adequada ao perfil do investidor;
- Fundos Imobiliários, que podem gerar renda passiva mensal;
- Ações com foco em dividendos, que ajudam na construção de renda ao longo do tempo.
Ces pontua, no entanto, que, no caso do Tesouro Renda+, o investidor perde a autonomia do montante principal do dinheiro, delegando a função de “fazer a renda passiva” para um terceiro.
Basicamente, os ativos se dividem entre renda fixa e renda variável. A decisão sobre quais incluir no plano vai depender da rentabilidade necessária para atingir a meta, do tempo até a aposentadoria e, principalmente, do perfil de risco de cada pessoa.
Colocando a mão na massa
Souza simulou o cenário em que três pessoas que querem se aposentar aos 60 anos com R$ 1 milhão acumulado, assumindo uma rentabilidade média de 1% ao mês (aproximadamente 12,68% ao ano):
- Aos 30 anos, precisaria investir cerca de R$ 286,13 por mês;
- Aos 40 anos, o valor sobe para R$ 1.010,86 por mês;
- Aos 50 anos, o esforço mensal chega a R$ 4.347,09.
Veja outras simulações, feitas por Ces:
Leonardo Ces, da Ibbra, também simulou diferentes cenários com rentabilidade de 9% ao ano para quem pode alocar R$ 200 por mês. Para se ter ideia da importância do fator-idade aqui, para ter a mesma renda que seria conquistada caso os aportes tivessem começado aos 30 anos, seria necessário investir mais do que o dobro aos 40 anos (R$ 509,35) e R$ 1.469,37 aos 50 anos.
Simulação de aposentadoria com aportes e rentabilidade anual de 9%
Início dos aportes | Idade da aposentadoria | Valor investido por mês | Tempo investido (anos) | Total aportado | Valor total = Aporte + juros | Aposentadoria mensal com o patrimônio obtido | Investimento mensal para igualar a renda aos 30 anos. |
30 | 65 | R$ 200 | 35 | R$ 84 mil | R$ 538.728,93 | R$ 6.212,33 | R$ 200,00 |
40 | 65 | R$ 200 | 25 | R$ 60 mil | R$ 211.537,08 | R$ 2.439,33 | R$ 509,35 |
50 | 65 | R$ 200 | 15 | R$ 36 mil | R$ 73.327,71 | R$ 845,57 | R$ 1.469,37 |
Fonte: Leonardo Ces, sócio-fundador da Ibbra Consultoria Financeira & Patrimonial
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